Em tempos de
pandemia causada pelo SARS-CoV-2 (Síndrome Respiratória Aguda Grave Coronavírus
2), vírus responsável pela COVID-19, todos nós fazemos questionamentos
associados às nossas responsabilidades laborais, principalmente os
profissionais de saúde, que acabam por de forma direta e indireta estarem
próximos ou mais expostos ao contágio. Na literatura científica publicada
durante o ano corrente, são muitas as novas informações, questionamentos,
hipóteses e dados clínicos constatados, que juntos somam uma imensa teia de
informações cujas verdades produzidas ainda nos trazem muitas inquietações,
incertezas e especulações.
Em respeito aos profissionais que o Euroexame mais se aproximou no último
ano, os ginecologistas (Obstetras ou não) e a todos nós cidadãos da saúde ou
comuns mortais, trazemos uma breve reflexão sobre as vias de transmissão da
COVID-19, que podem impactar em nossas vidas, e nas novas vidas trazidas ao
mundo pelas mãos destes profissionais cotidianamente. Será que é possível
transmissão sexual do SARS-CoV-2?
O que sabemos e vale esta reflexão
passa pelo conhecimento de que a Enzima Conversora de Angiotensina II (ECA2)
parece ser usada pelo vírus SARS-CoV-2 como um receptor para entrar nas
células. Esta enzima está presente em células epiteliais intestinais, incluindo
as células da mucosa retal e da mucosa oral, o que significa que em um
indivíduo assintomático e infectado, práticas sexuais oral-anal e vice-versa,
em tese poderiam transmitir a infecção viral. Para irmos mais além, indagamos:
e a mucosa vaginal, será que que possui ECA2? Seria uma porta de entrada ou de
possível transmissão do SARS-CoV-2?
Essas indagações ainda pairam no
universo científico, mas já podemos ler sem rota de transmissão concreta descrita
da literatura, a existência de recém-nascidos infectados, transmissão vertical?
Parto por cesariana? Mais como ocorreu? Nesta linha de raciocínio, Scorzolini
et al (2020) pesquisou a presença de SARS-CoV-2 em fluidos vaginais de mulheres
sem nenhuma evidência de infecção genital, mas com pneumonia, admitida em uma
Unidade de Terapia Intensiva em Wuhan, China, no período de 4 a 24 de fevereiro
de 2020. Para surpresa dos pesquisadores, uma mulher mesmo em uso de
antirretroviral, teve resultado de PCR para SARS-CoV-2 positivo em seu fluido
vaginal nos dias 5 e 20 após o início dos sintomas, provando a existência ainda
que pontual de uma contaminação dos fluidos vaginais. A exemplo do que ocorre
com fezes e urina, onde o vírus é eliminado depois de muitos dias do início da
infecção, quando a rigor na reação de PCR para SARS-CoV-2, já não mais é
possível encontrar nas vias aéreas superiores a presença viral.
Embora
a transmissão de SARS-CoV-2 através da secreção genital ainda não tenha sido
estabelecida e os resultados de publicações científicas sejam limitados, temos
indícios baseados em dados laboratoriais de detecção viral, que podem embasar a
indicação de cesarianas para reduzir o risco de transmissão vertical no momento
do parto. E sabemos obviamente que mais investigações científicas são
necessárias para entender as implicações clínicas e epidemiológicas da COVID-19.
Cientes
das nossas responsabilidades, fica a atenção da equipe Euroexame, sempre
preocupada em partilhar atualizações, com este profissional tão atento à vida e
ao nascimento. E aos demais Ginecologistas, atenção a sua atividade laboral e
sua relevante contribuição para informar os pacientes sobre a existência desta
hipótese.
Leitura recomendada:
- Patrì A1, Gallo L2, Guarino M2, Fabbrocini G2.
Sexual transmission of severe acute respiratory syndrome coronavirus 2 (SARS-CoV-2):
A new possible route of infection?J Am Acad Dermatol. 2020
Apr 9. pii: S0190-9622(20)30521-1. doi: 10.1016/j.jaad.2020.03.098. [Epub ahead
of print]
-Scorzolini L1, Corpolongo A1, Castilletti C1, Lalle E1, Mariano A1, Nicastri E1. Comment of
the potential risks of sexual and vertical transmission of Covid-19 infection.
Clin Infect
Dis. 2020 Apr 16. pii: ciaa445. doi: 10.1093/cid/ciaa445. [Epub
ahead of print]