domingo, 10 de maio de 2020

Transmissão sexual de SARS-CoV-2: seria possível?


Em tempos de pandemia causada pelo SARS-CoV-2 (Síndrome Respiratória Aguda Grave Coronavírus 2), vírus responsável pela COVID-19, todos nós fazemos questionamentos associados às nossas responsabilidades laborais, principalmente os profissionais de saúde, que acabam por de forma direta e indireta estarem próximos ou mais expostos ao contágio. Na literatura científica publicada durante o ano corrente, são muitas as novas informações, questionamentos, hipóteses e dados clínicos constatados, que juntos somam uma imensa teia de informações cujas verdades produzidas ainda nos trazem muitas inquietações, incertezas e especulações.

            Em respeito aos profissionais que o Euroexame mais se aproximou no último ano, os ginecologistas (Obstetras ou não) e a todos nós cidadãos da saúde ou comuns mortais, trazemos uma breve reflexão sobre as vias de transmissão da COVID-19, que podem impactar em nossas vidas, e nas novas vidas trazidas ao mundo pelas mãos destes profissionais cotidianamente. Será que é possível transmissão sexual do SARS-CoV-2?
            O que sabemos e vale esta reflexão passa pelo conhecimento de que a Enzima Conversora de Angiotensina II (ECA2) parece ser usada pelo vírus SARS-CoV-2 como um receptor para entrar nas células. Esta enzima está presente em células epiteliais intestinais, incluindo as células da mucosa retal e da mucosa oral, o que significa que em um indivíduo assintomático e infectado, práticas sexuais oral-anal e vice-versa, em tese poderiam transmitir a infecção viral. Para irmos mais além, indagamos: e a mucosa vaginal, será que que possui ECA2? Seria uma porta de entrada ou de possível transmissão do SARS-CoV-2?
            Essas indagações ainda pairam no universo científico, mas já podemos ler sem rota de transmissão concreta descrita da literatura, a existência de recém-nascidos infectados, transmissão vertical? Parto por cesariana? Mais como ocorreu? Nesta linha de raciocínio, Scorzolini et al (2020) pesquisou a presença de SARS-CoV-2 em fluidos vaginais de mulheres sem nenhuma evidência de infecção genital, mas com pneumonia, admitida em uma Unidade de Terapia Intensiva em Wuhan, China, no período de 4 a 24 de fevereiro de 2020. Para surpresa dos pesquisadores, uma mulher mesmo em uso de antirretroviral, teve resultado de PCR para SARS-CoV-2 positivo em seu fluido vaginal nos dias 5 e 20 após o início dos sintomas, provando a existência ainda que pontual de uma contaminação dos fluidos vaginais. A exemplo do que ocorre com fezes e urina, onde o vírus é eliminado depois de muitos dias do início da infecção, quando a rigor na reação de PCR para SARS-CoV-2, já não mais é possível encontrar nas vias aéreas superiores a presença viral.
            Embora a transmissão de SARS-CoV-2 através da secreção genital ainda não tenha sido estabelecida e os resultados de publicações científicas sejam limitados, temos indícios baseados em dados laboratoriais de detecção viral, que podem embasar a indicação de cesarianas para reduzir o risco de transmissão vertical no momento do parto. E sabemos obviamente que mais investigações científicas são necessárias para entender as implicações clínicas e epidemiológicas da COVID-19.
            Cientes das nossas responsabilidades, fica a atenção da equipe Euroexame, sempre preocupada em partilhar atualizações, com este profissional tão atento à vida e ao nascimento. E aos demais Ginecologistas, atenção a sua atividade laboral e sua relevante contribuição para informar os pacientes sobre a existência desta hipótese.

Leitura recomendada:

Sexual transmission of severe acute respiratory syndrome coronavirus 2 (SARS-CoV-2): A new possible route of infection?J Am Acad Dermatol. 2020 Apr 9. pii: S0190-9622(20)30521-1. doi: 10.1016/j.jaad.2020.03.098. [Epub ahead of print]

-Scorzolini L1Corpolongo A1Castilletti C1Lalle E1Mariano A1Nicastri E1. Comment of the potential risks of sexual and vertical transmission of Covid-19 infection. Clin Infect Dis. 2020 Apr 16. pii: ciaa445. doi: 10.1093/cid/ciaa445. [Epub ahead of print]

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