Na última década frases de grande impacto sobre a relação entre a microbiota intestinal e vaginal têm chamado atenção em trechos de artigos científicos publicados em revistas de alto impacto sugerindo a existência da microbiota intestinal como reservatório da microbiota vaginal para uma grande quantidade de micro-organismos (REED et al, 2000; AILA et al, 2011; WIJGERT et al, 2014; CASTRO et al, 2015; JANDHYALA et al, 2015; GONÇALVES et al, 2016; SOBEL, 2016; KANG et al, 2017; YADAV, VERMA, CHAUHAN, 2017).

Este
trabalho descreve pela primeira vez a presença de Candida spp. isoladas de ambos os sítios anatômicos de um mesmo
paciente, vagina e reto. Na publicação essa coexistência do mesmo
micro-organismo foi descrita com cem por cento de correlação positiva para a
presença de Candida spp. em ambos os
locais, e os autores referem que estes resultados foram encontrados em 47% dos
98 pacientes arrolados na pesquisa, todos estes pacientes apresentaram cultura
positiva em swabs vaginal e retal.
Embora a cultura de fungos, à luz do conhecimento atual apenas identifique o
gênero Candida, necessitando de mais
testes e metodologias laboratoriais para o identificar a espécie fúngicas exata,
é inegável a fantástica ideia científica e indubitavelmente um grande marco
para o diagnóstico laboratorial disponível na época. Esse feito é tão
importante que atualmente, cerca de quatro décadas depois, ele continua a
inspirar pesquisadores do mundo todo a provar esta hipótese com as metodologias
usuais.
Na
era do sequenciamento de terceira geração (NGS ou NextGENe), e do
sequenciamento das microbiotas de vários sítios anatômicos e da identificação
precisa de inúmeros micro-organismos, sem falarmos da possibilidade do emprego
de técnicas e metodologias atuais como o FINGERPRINT,
é perfeitamente plausível comprovar a hipótese de qual é a origem da Candida vaginal de um paciente, será de
fato igual a intestinal?
Nesse
universo de tantas possibilidades diagnósticas, para que serve e o que é um FINGERPRINT? É um conjunto de técnicas
moleculares que quando combinadas possuem muitas aplicações na ciência, sendo a
mais importante delas permitir a identificação de micro-organismos homólogos que
habitem sítios anatômicos distintos, através do DNA.
À
luz do emprego de Fingerprint e técnicas
associadas, pelo menos duas publicações em revistas de indexação internacional
relevantes validam e ratificam a hipótese, Abdullah El Aila et al (BMC
Infectious Diseases, 2009)
e Marrazzo et al (J
Infect Dis, 2009), ambos avaliaram
homologia de espécies de Lactobacillus
spp. de origem vaginal e retal, e concluíram após o emprego da metodologia, que
se tratava do mesmo micro-organismo, confirmando que a reserva vaginal de fato
é o reto (ou intestino).
Diante
de comprovações científicas reais não podemos negligenciar conhecimentos já
evidentes e dos quais não devemos esquecer, se quisermos manejo clínico
eficiente e pacientes tratados que evitem disseminação e compartilhamento de
micro-organismos, que cada vez mais estão associados em biofilmes
polimicrobianos refratários a tratamento medicamentoso usual e recomendado em guidelines, precisamos enxergar
diagnóstico laboratorial eficiente e nos conscientizamos que se faz necessário
empregar novas estratégias combinadas, como ações farmacológicas e não
farmacológicas que de fato resultem em eficiência terapêutica. Além de
considerar a coexistência e sobreposição de patologias antes impensadas como de
aparecimento conjunto.
Para não esquecer e praticar:
•
Candida spp. causando CVV tem como reservatório o reto, não
podemos ignorar a avaliação intestinal de pacientes recorrentes;
•
A boca também é um reservatório
extravaginal importante;
•
Sexo oral, anal e com
participação de dígitos, ou modalidades sexuais combinadas desprotegidas ou com
múltiplos parceiros disseminam bactérias causadoras de vaginose bacteriana (VB)
e promovem compartilhamento de espécies de Candida
entre indivíduos;
•
Casais homossexuais e
heterossexuais monogâmicos ou não, compartilham microbiota entre parceiros e
entre sítios anatômicos;
•
O reto além de ser
reservatório de Lactobacillus spp.
também é reservatório de outras bactérias que causam VB e de Candida spp.
•
E
Lactobacillus crispatus é a principal
espécie bacteriana predominante na vagina e reto em indivíduos saudáveis.
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