quarta-feira, 10 de abril de 2019
Biofilme
Biofilme é
um grupo organizado de micro-organismos que vivem dentro de uma matriz de
substâncias poliméricas produzida pelos próprios micro-organismos, e que é
capaz de se ligar a várias superfícies, sejam elas bióticas ou abióticas. O
biofilme pode se desenvolver em múltiplas camadas, e quanto maior é a sua
complexidade e onipresença, mais difícil é sua erradicação. Nas doenças
infecciosas, o biofilme tem sido considerado o reservatório de micro-organismos
levando a infecções persistentes, muitas vezes refratárias aos tratamentos
terça-feira, 9 de abril de 2019
Por que as vaginites e vaginoses representam um desafio na prática clínica ginecológica?
A
microbiota vaginal (MBV) saudável é composta predominantemente por Lactobacillus spp., que
apresenta um papel importante na prevenção da colonização por organismos
patogênicos, incluindo agentes infecciosos do trato geniturinário e infecções
sexualmente transmissíveis, atuando na manutenção da saúde reprodutiva e
ginecológica da mulher.
Para
manter este ambiente na MBV, Lactobacillus
spp. formam um biofilme diferente, cujo aspecto é mais fino e frouxo que um
biofilme patogênico, e esta estrutura é mantida através da produção
de substâncias como: ácidos orgânicos (lático e acético, que apresentam
propriedades microbicidas), bacteriocinas,
biossurfactantes, hidrocarbonetos, peróxido de hidrogênio e moléculas de
coagregação, que em conjunto mantem o equilíbrio vaginal. Quando este
equilíbrio é interrompido por algum dos fatores conhecidos, tais como: mudanças
hormonais (estrogênio), uso de antimicrobianos (antibióticos e antifúngicos), menstruação,
microbiota intestinal, uso de produtos de higiene íntima, interação sexual, uso
de contraceptivos, entre outros, ocorre a chamada
disbiose vaginal, e abre porta para o desenvolvimento das duas condições patogênicas
mais prevalentes, as vaginoses e vaginites (candidíase).
Nas Vaginoses
Bacterianas (VB), a redução do biofilme formado pelos Lactobacillus spp. promove a formação de um biofilme bacteriano
patogênico. Dentre as bactérias mais comumente encontradas, destaca-se Gardnerella vaginalis presente em cerca
de 90 % das mulheres diagnosticadas com VB, considerada a bactéria colonizadora
inicial na formação de biofilme, e que desempenha um papel central no estágio
inicial de adesão deste micro-organismo às células do epitélio vaginal para
formação do arcabouço do biofilme. Uma vez consolidado a existência deste
biofilme bacteriano abre a porta para a entrada de diferentes micro-organismos.
Este fato pode ser confirmado na literatura, que descreve que G. vaginalis induz uma relação
simbiótica com outras bactérias associadas a VB, pois não é raro encontrar a
presença de G. vaginalis e Atopobium vaginae, co-detectadas nas BV,
sugerindo uma cooperação efetiva na formação de um biofilme polimicrobiano.
Esse dueto formado pela redução de Lactobacillus spp. e a formação de biofilme, também é observado na Candidíase
Vulvovaginal (CVV), pois como a Candida
spp. é comensal na MBV e se mantem em harmonia com o hospedeiro, quando há uma
ruptura neste equilíbrio, essa levedura encontra condições ideais para
colonizar esse sítio anatômico. Nesta condição patogênica, Candida spp. adquire a capacidade de formar biofilmes, que se inicia
a partir da adesão deste fungo às células do epitélio vaginal, completando a
chamada fase de adesão do biofilme, em seguida estas leveduras multiplicam-se e
fazem agregação na chamada fase de colonização, e posteriormente ocorre a
produção de material extracelular e o desenvolvimento de uma matriz de biofilme
madura, que passa a dominar a microbiota vaginal. Nesta condição patogênica, Candida spp. representa um importante
atributo de virulência, sua capacidade de restringir a penetração de
antifúngicos e consequentemente a erradicação/controle deste micro-organismo na
microbiota vaginal.
O biofilme formado nas vaginites e
vaginoses representa dois grandes desafios: o
primeiro está ligado à resistência aos antifúngicos empregados nos tratamentos usuais,
e o segundo ao diagnóstico clínico baseado apenas nos critérios de Amsel e
Nugent, pois em algumas destas infecções os sintomas podem ser semelhantes, e
também sabemos hoje que Candida spp.
é capaz de crescer em um ambiente ácido, gerando mais um fator confundidor. Um
diagnóstico laboratorial preciso hoje disponível por técnicas moleculares, e o
emprego de tratamentos coadjuvantes que desestruturem os biofilmes patogênicos
representam um novo caminho a ser seguido para um sucesso terapêutico.
Leitura recomendada:
Campisciano G., Zanotta N., Petix V., Corich L., De Seta F., Comar M. Vaginal microbiota
dysmicrobism and role of biofilm-forming bacteria. Frontiers In Bioscience,
n. 10, p. 528-536, 2018.
Gupta P., Sarkar S.,
Das B., Bhattacharjee S., Tribedi P. Biofilm, pathogenesis and
prevention - a journey to break the wall: a review. Arch Microbiol, n.198, p. 1–15,
2016.
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