Como funcionam os probióticos?
Os Probióticos são micro-organismos vivos
que quando administrados em quantidades adequadas conferem benefícios à saúde
do hospedeiro (FAO/WHO, 2001). E esse conceito não deve ser confundido com outro
termo cunhado mais recentemente, os Prebióticos,
que são definidos como ingredientes
seletivamente fermentados, que resultam em alterações específicas na composição
e/ou atividade da microbiota intestinal, proporcionando benefícios para a saúde
do hospedeiro (Gibson et al, 2011).
Em todo o mundo nos últimos anos,
cresce o consumo de alimentos funcionais que possuem em sua composição cerca de
60% de probióticos e prebióticos, e é inegável a sua aplicação na indústria
alimentícia, farmacêutica e nutracêutica (produto nutricional com valor
terapêutico). Por outro lado, somos bombardeados o tempo inteiro com a difusão
do emprego dos probióticos para garantir “saúde”, mas será mesmo que essa
associação já foi comprovada pela ciência?
Revisando a literatura encontramos
probióticos empregados como coadjuvantes de tratamento de Candidíase e
modulação da microbiota intestinal, principalmente para prevenir câncer
colorretal e como coadjuvante de tratamento de outras doenças gastrointestinais.
E o que dizem estes estudos associados à candidíase?
O uso de Probióticos empregado para reduzir
as infecções por Candida spp. nas
superfícies mucosas, onde tem sido amplamente estudado em ensaios clínicos,
contra infecções urogenitais e gastrointestinais (Hu et al, 2013; Kovachev e
Vatcheva-Dobrevska, 2015; Roy et al, 2014), e também contra infecções orais
(Ishikawa et al, 2014; Kraft-Bodi et al, 2015; Li et al, 2014; Matsubara et al,
2012), indicaram que vários probióticos são seguros e eficazes como agentes
antifúngicos para a profilaxia, ou como adjuvantes no tratamento da candidíase
da mucosa.
Na candidíase,
os efeitos fungicidas ou fungistáticos subjacentes dos probióticos podem
envolver: 1) a produção de metabólitos secundários com atividade antimicrobiana
(Ceresa et al, 2015; Vilela et al, 2015; Zakaria Gomaa, 2013), tais como: a
produção de ácidos
orgânicos – lático (com ação antivirais e
imunomodulatórias) (Tachedjian et al, 2017) e acético, bacteriocinas, biossurfactantes,
hidrocarbonetos, peróxido de hidrogênio e moléculas de coagregação (Sgibnev
e Kremleva, 2015; Kovachev, 2018; Fuochi et
al, 2018); 2) a competição por nutrientes
e sítios de adesão (aderem aos receptores
celulares epiteliais e formam uma barreira física impedindo a adesão de
patógenos), e 3) a estimulação do sistema
imunológico (Fidan et al, 2009).
Outros estudos também mostraram que as bactérias
probióticas têm a capacidade de suprimir a formação de biofilme por C. albicans em várias superfícies, como
o silicone e biomateriais relacionados (Ceresa et al, 2015; Murzyn et al, 2010;
Orsi et al, 2014; Rodrigues et al, 2006), principalmente induzindo a regulação
negativa de genes associados à formação de biofilme de Candida, como PHR1 e ALS12 em C.
albicans (Kohler et al. 2012), e EPA6 e YAK1 em Candida glabrata (Chew et al. 2015).
Para além de sua ação na candidíase, e lembrando que a
reserva das espécies de Candida é
sempre oriunda do intestino, os probiótico também apresentam várias ações
combinadas no intestino. Dentre elas podemos destacar: 1) melhoram a barreira
intestinal através do aumento da produção de mucina e de IgA secretória para a
mucosa intestinal, que auxiliam na distribuição adequadas das chamadas Tight Junctions (TJ) responsáveis pela
integridade da mucosa, e também regulam o balanço de proliferação,
diferenciação e apoptose dos colonócitos; 2) promovem a competição por locais
de adesão e nutrientes, selecionando bactérias benéficas que secretam compostos
com atividade antimicrobiana, e consequentemente reduzem as bactérias
patogênicas; 3) possuem a capacidade de ligar-se e degradar compostos
carcinogênicos intestinais; 4) aumentam a produção de compostos anticarcinogênicos
como ácidos graxos de cadeias curtas, aumentando butirato, acetato e
propionato, que reduzem a inflamação e o pH; 5) alteram o metabolismo na
microbiota intestinal; 5) promovem imunomodulação que também reduz o processo
inflamatório produzido pela disbiose, entre outros efeitos.
Com todos os
estudos disponíveis na literatura podemos claramente afirmar que os probiótico
induzem efeitos benéficos e direcionados, associa-los como adjuvantes aos
tratamentos usuais é um grande passo e uma quebra de paradigma na medicina,
considerar que eles são uma “solução mágica” para a cura destas patologias é
irreal, mas tornam-se ferramentas poderosas quando bem aplicadas em benefício
da saúde, associadas é óbvio a uma boa alimentação, a mudanças de hábitos e
comportamentos sexuais, e quando necessário associados às terapias
antimicrobianas disponíveis ou ao diagnóstico laboratorial para eventuais
correções disbióticas para o estado eubiótico tão compatível com a saúde.
Leitura recomendada:
Matsubara VH, Wang Y, Bandara HM, Mayer MP, Samaranayake LP. Probiotic lactobacilli inhibit early stages of Candida
albicans biofilm development by reducing their growth, cell adhesion, and
filamentation. Appl Microbiol Biotechnol. 2016
Jul;100(14):6415-26. doi: 10.1007/s00253-016-7527-3. Epub 2016 Apr 18.
Dos Reis SA, da Conceição
LL, Siqueira NP, Rosa DD, da Silva LL, Peluzio MD.
Review of the mechanisms of probiotic actions in
the prevention of colorectal cancer. Nutr Res. 2017
Jan;37:1-19. doi: 10.1016/j.nutres.2016.11.009. Epub 2016 Nov 23.
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