quinta-feira, 30 de maio de 2019

COMO CONSTRUIR SAÚDE ATRAVÉS DA MICROBIOTA INTESTINAL



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O corpo humano é formado por 100 trilhões de micro-organismos simbiontes que vivem em cada indivíduo e compõem sua microbiota corporal. Cerca de 95% de toda essa microbiota está localizada no trato gastrointestinal e forma a microbiota intestinal, que é considerada tão individual quanto a nossa impressão digital, embora grupos bacterianos comuns estejam presentes em todos os indivíduos, mas em proporções distintas (WORLDMICROBIOMEDAY, 2019).
O Microbioma Intestinal é o estudo dos genes dos micro-organismos que vivem no intestino, mas o conjunto de micro-organismos que habitam o intestino é denominado Microbiota Intestinal (LIU, 2016).
                     Atualmente, já existe disponível exames que avaliam através de técnicas laboratoriais moleculares de alta complexidade, o microbioma intestinal e a presença principalmente das bactérias que habitam o intestino, possibilitando uma avaliação precisa da presença de desequilíbrios na microbiota que necessitam de intervenção clínica. Estudos recentes apontam que a relação entre a microbiota intestinal e a saúde estão fortemente associada, pois uma microbiota intestinal saudável é responsável pela saúde geral do indivíduo (JANDHYALA et al., 2015). Razão pela qual é muito importante avaliá-la em alguns momentos da vida e em algumas condições patológicas.
De maneira geral, os indivíduos apresentam composições bacterianas distintas em sua microbiota intestinal, que são definidas geneticamente, e por características individuais e ambientais. Dentre as características ambientais destacamos fatores que desempenham um papel importante na formação da microbiota intestinal normal, tais como: (1) o modo de nascimento (parto vaginal ou cesariana), (2) idade (a microbiota modifica-se no idoso e na criança é definida aos 3 anos), (3) hábitos alimentares, dieta durante a primeira infância (leite materno ou fórmula) e na vida adulta (se é baseada em vegetarianismo ou consumo de carne) e (4) uso de antibióticos, que alteram a microbiota. A longo prazo esses fatores promovem mudanças na microbiota intestinal normal (MORAES et al; 2014; JANDHYALA et al., 2015; MARX, 2015).
Esse conjunto de fatores é muito importante para definir a microbiota intestinal inicialmente formada que é chamada de Microbiota Residente (permanente, intermitente ou comensal) que nos acompanha por toda a vida, e posteriormente também é relevante para a modulação da chamada Microbiota Transitória ou temporária, que compete com a microbiota residente e é eliminada, entretanto sua modulação terapêutica pode melhorar a microbiota a residente.
Além de todas estas questões, a correria diária faz com que o consumo de alimentos processados, bem como ricos em gordura animal e açúcares, sejam cada vez mais frequentes, reduzindo a chamada “alimentação saudável”, se associarmos a estes fatores condições contínuas de estresse e falta de atividade física, a um prazo curto ou moderado, observaremos reflexos em nosso corpo, com o aparecimento de doenças refletindo as mudanças alimentares que causam disbiose intestinal.
 O desequilíbrio da microbiota intestinal ou desbalanço é chamado de DISBIOSE, condição que pode estar associada a várias doenças e pode ser detectada por exames laboratoriais, como os de avaliação do Microbioma Intestinal (www.euroexame.com.br/exames/moleculares). Uma vez identificado esse desequilíbrio pode ser tratado individualmente, restabelecendo através de alimentação saudável e emprego de suplementos prebióticos e probióticos, que em conjunto com outras estratégias de saúde (terapias de suporte, suplementares, medicina integrativa, ortomolecular, dentre outros), podem reestabelecem a saúde do indivíduo, auxiliando o médico no diagnóstico e no tratamento de acordo com sua formação e convicção clínica do tratamento mais adequado para seu paciente.

          Indicações clínicas para realização do exame de Microbioma Intestinal
- Avaliação após tratamento da disbiose com dieta, complexos homeopáticos, probióticos e organoterápicos
- Avaliação do estado nutricional do paciente e hipovitaminoses
- Envelhecimento
- Avaliação do estado imunitário do hospedeiro
- Uso indiscriminado de antibióticos e anti-inflamatórios
- Uso crônico de inibidores da bomba de prótons – alteram o pH do estomago o qual tem que ser ácido. Ex.: omeprazol
- Alergias alimentares
- Uso prolongado de laxantes
- Doenças consumptivas (câncer e AIDS)
- Disfunções hepatopancreáticas (Diabetes)
- Doenças gastrintestinais e associações
- Estresse
- Avaliação candidíase e vaginoses graves e crônicas, infecções urinárias recorrentes (reserva intestinal)
- depressão, ansiedade, síndrome do Pânico e outros transtornos psíquicos tendo em vista que 90% da serotonina e 50% da dopamina do organismo são produzidas pelo intestino que se comunica com o cérebro pelo sistema nervoso entérico.

Benefícios do Exame
- Identificação do Índice de Disbiose Intestinal
- Quantificação e/ou classificação dos principais filos bacterianos presentes no intestino, Firmicutes e Bacteroidetes
- Identificação de bactérias marcadoras de saúde intestinal
- Correção sob medida do estado intestinal do paciente


sexta-feira, 17 de maio de 2019

Como funcionam os Probióticos


Como funcionam os probióticos?

            Os Probióticos são micro-organismos vivos que quando administrados em quantidades adequadas conferem benefícios à saúde do hospedeiro (FAO/WHO, 2001). E esse conceito não deve ser confundido com outro termo cunhado mais recentemente, os Prebióticos, que são definidos como ingredientes seletivamente fermentados, que resultam em alterações específicas na composição e/ou atividade da microbiota intestinal, proporcionando benefícios para a saúde do hospedeiro (Gibson et al, 2011).
            Em todo o mundo nos últimos anos, cresce o consumo de alimentos funcionais que possuem em sua composição cerca de 60% de probióticos e prebióticos, e é inegável a sua aplicação na indústria alimentícia, farmacêutica e nutracêutica (produto nutricional com valor terapêutico). Por outro lado, somos bombardeados o tempo inteiro com a difusão do emprego dos probióticos para garantir “saúde”, mas será mesmo que essa associação já foi comprovada pela ciência?
            Revisando a literatura encontramos probióticos empregados como coadjuvantes de tratamento de Candidíase e modulação da microbiota intestinal, principalmente para prevenir câncer colorretal e como coadjuvante de tratamento de outras doenças gastrointestinais. E o que dizem estes estudos associados à candidíase?
O uso de Probióticos empregado para reduzir as infecções por Candida spp. nas superfícies mucosas, onde tem sido amplamente estudado em ensaios clínicos, contra infecções urogenitais e gastrointestinais (Hu et al, 2013; Kovachev e Vatcheva-Dobrevska, 2015; Roy et al, 2014), e também contra infecções orais (Ishikawa et al, 2014; Kraft-Bodi et al, 2015; Li et al, 2014; Matsubara et al, 2012), indicaram que vários probióticos são seguros e eficazes como agentes antifúngicos para a profilaxia, ou como adjuvantes no tratamento da candidíase da mucosa.
            Na candidíase, os efeitos fungicidas ou fungistáticos subjacentes dos probióticos podem envolver: 1) a produção de metabólitos secundários com atividade antimicrobiana (Ceresa et al, 2015; Vilela et al, 2015; Zakaria Gomaa, 2013), tais como: a produção de ácidos orgânicos – lático (com ação antivirais e imunomodulatórias) (Tachedjian et al, 2017) e acético, bacteriocinas, biossurfactantes, hidrocarbonetos, peróxido de hidrogênio e moléculas de coagregação (Sgibnev e Kremleva, 2015; Kovachev, 2018; Fuochi et al, 2018); 2) a competição por nutrientes e sítios de adesão (aderem aos receptores celulares epiteliais e formam uma barreira física impedindo a adesão de patógenos), e 3) a estimulação do sistema imunológico (Fidan et al, 2009).
            Outros estudos também mostraram que as bactérias probióticas têm a capacidade de suprimir a formação de biofilme por C. albicans em várias superfícies, como o silicone e biomateriais relacionados (Ceresa et al, 2015; Murzyn et al, 2010; Orsi et al, 2014; Rodrigues et al, 2006), principalmente induzindo a regulação negativa de genes associados à formação de biofilme de Candida, como PHR1 e ALS12 em C. albicans (Kohler et al. 2012), e EPA6 e YAK1 em Candida glabrata (Chew et al. 2015).
            Para além de sua ação na candidíase, e lembrando que a reserva das espécies de Candida é sempre oriunda do intestino, os probiótico também apresentam várias ações combinadas no intestino. Dentre elas podemos destacar: 1) melhoram a barreira intestinal através do aumento da produção de mucina e de IgA secretória para a mucosa intestinal, que auxiliam na distribuição adequadas das chamadas Tight Junctions (TJ) responsáveis pela integridade da mucosa, e também regulam o balanço de proliferação, diferenciação e apoptose dos colonócitos; 2) promovem a competição por locais de adesão e nutrientes, selecionando bactérias benéficas que secretam compostos com atividade antimicrobiana, e consequentemente reduzem as bactérias patogênicas; 3) possuem a capacidade de ligar-se e degradar compostos carcinogênicos intestinais; 4) aumentam a produção de compostos anticarcinogênicos como ácidos graxos de cadeias curtas, aumentando butirato, acetato e propionato, que reduzem a inflamação e o pH; 5) alteram o metabolismo na microbiota intestinal; 5) promovem imunomodulação que também reduz o processo inflamatório produzido pela disbiose, entre outros efeitos.
            Com todos os estudos disponíveis na literatura podemos claramente afirmar que os probiótico induzem efeitos benéficos e direcionados, associa-los como adjuvantes aos tratamentos usuais é um grande passo e uma quebra de paradigma na medicina, considerar que eles são uma “solução mágica” para a cura destas patologias é irreal, mas tornam-se ferramentas poderosas quando bem aplicadas em benefício da saúde, associadas é óbvio a uma boa alimentação, a mudanças de hábitos e comportamentos sexuais, e quando necessário associados às terapias antimicrobianas disponíveis ou ao diagnóstico laboratorial para eventuais correções disbióticas para o estado eubiótico tão compatível com a saúde.

Leitura recomendada:
Matsubara VHWang YBandara HMMayer MPSamaranayake LP. Probiotic lactobacilli inhibit early stages of Candida albicans biofilm development by reducing their growth, cell adhesion, and filamentation. Appl Microbiol Biotechnol. 2016 Jul;100(14):6415-26. doi: 10.1007/s00253-016-7527-3. Epub 2016 Apr 18.

Dos Reis SAda Conceição LLSiqueira NPRosa DDda Silva LLPeluzio MD. Review of the mechanisms of probiotic actions in the prevention of colorectal cancer. Nutr Res. 2017 Jan;37:1-19. doi: 10.1016/j.nutres.2016.11.009. Epub 2016 Nov 23.